Denis
Renó1
Universidad
del Rosario
Luciana
Renó2
Universidad
Minuto de Dios
Resumo
O
audiovisual vive, hoje, novas realidades, inclusive pelos
equipamentos disponíveis para produção e exibição. Com este
cenário, estão em desenvolvimento técnicas e estéticas para a
produção de conteúdos audiovisuais a partir destes dispositivos,
especialmente pelos telefones celulares. Este artigo apresenta
resultados de uma investigação experimental sobre a produção de
documentários exclusivamente a partir de telefones, além de
fundamentais informações sobre tecnologia de imagens nestes
dispositivos. Acreditamos que com isto podemos começar uma produção
com mais critério básico para razoáveis resultados de recepção.
Palavras
chave: Comunicação,
Audiovisual, Documentário, Narrativa Transmídia, Mobilidade.
Discussões
iniciais
O papel da mídia, atualmente, está
sendo estudado por um grande numero de investigadores. Nos estudos,
estão sendo desenvolvidas temáticas sobre linguagem, sobre conteúdo
e, inúmeras vezes, sobre ideologia. Mas ainda não existem estudos
expressivos que apresentem o papel da sociedade na produção
audiovisual, especialmente pela blogosfera e a partir de dispositivos
de telefonia móvel. Além disso, ainda não se desenvolveram estudos
que reproduzam um panorama da produção audiovisual exclusivamente a
partir de telefones celulares.
A área tem vivido diversas mudanças
desde o surgimento da tecnologia digital, e de suas conseqüentes
evoluções. A internet, a telefonia celular e os recursos digitais
provocaram na sociedade singularidades que contemplam uma
característica fundamental e pós-moderna (BAUMAN, 2001).
Através de dispositivos de telefonia
móvel, por exemplo, a produção midiática ganhou força, pois
agora é mais acessível. Assim, como captura imagens, alguns
aparelhos de telefonia celular oferecem ao cidadão comum a
possibilidade de editar seus conteúdos audiovisuais e publicar tudo
em ambiente de distribuição midiática pela internet, com especial
atenção à blogosfera, como apresentam os conceitos de Dan Gillmor
(2005), onde nós somos os mídia, e Henry Jenkins (2009), dedicado à
narrativa transmídia. Mas a característica mais importante destes
meios é a mobilidade, discutida de forma expressiva por Marc Auge
(2007).
Por outro lado, é fundamental
entender os conceitos e as definições tecnológicas que direcionam
a escolha de um dispositivo ideal, e neste espaço de informações
encontra-se de maneira ímpar a definição da imagem. Para tanto, é
importante compreender este quesito no campo da engenharia digital.
O objetivo deste artigo de
investigação é analisar, apurar e avaliar o dos telefones
celulares a respeito da produção de conteúdos audiovisuais. É
possível produzir obras a partir destes “computadores de mão”?
Para tanto, foram produzidos duas obras audiovisuais: um documental
de roteiro linear e um de roteiro interativo, todos realizados
exclusivamente a partir de um telefone celular iPhone 3GS, o mais
avançado na época do experimento. Além disso, este estudo tem como
proposta a definição de uma linguagem para a produção de
conteúdos audiovisuais a partir destes dispositivos e, por fim,
parâmetros decisórios no campo da tecnologia. Acreditamos que este
estudo ocupa uma posição fundamental no campo do desenvolvimento de
conteúdos para micro-telas e por micro-telas numa sociedade onde o
audiovisual é produzido para o público e agora também pelo
público, de acordo com Gillmor (2005).
Novos
espaços
A
comunicação referente aos espaços para difusão de conteúdo,
ganhou um novo aporte desde a web 2.0., especificamente com a chegada
dos blogs e de sites como o YouTube, pela criação de canais
comunicacionais particulares, mas também abertos ao público em
geral. A partir desta arquitetura comunicacional é possível que uma
pessoa ou grupo possa ter seu próprio canal de comunicação
composto por conteúdo audiovisual, com interface específica e uma
oferta de conteúdo de acordo com seus interesses e necessidades.
Mas este novo espaço também mudou o
modelo dos visitantes como usuários ou participantes, ao apresentar
a possibilidade de intervir nas discussões dos conteúdos, que
resulta na interatividade. Através disto, há uma participação
envolvida dos grupos interessados, que acabam por direcionar
discussões de conteúdos.
Com este suporte técnico tem sido
viável a exibição ou criação de canais com conteúdos
audiovisuais pessoais, institucionais ou por grupos na rede, que
permitem criar seus espaços e exibir seus conteúdos, ideias e
necessidades sem custo algum, ou seja, sem ter que criar um espaço
virtual com sua própria tecnologia. Uma destas possibilidades é a
blogosfera, que, para Gillmor (2005), é considerada uma forma de
repercussão da informação por parte das redes de usuários, até
porque agora a sociedade tem vontade de transformar-se em mídia.
Outra possibilidade, o YouTube, é
viável não somente para a criação mas também pela mecânica do
site, que propõe uma distribuição do conteúdo naturalmente,
fazendo parte de um macro cenário das redes sociais. É simples
compartilhar vídeos do YouTube em blogs e microblogs, por exemplo,
permitindo, assim, criar mensagens midiáticas, de acordo com George
Landow (2009). Inclusive, para Lorenzo Vilches (2003), a web 2.0. tem
proporcionado um cenário que podemos chamar de “a nova televisão”,
onde os receptores são também autores e programadores de seus
próprios canais informativos.
A blogosfera é o caminho de uma nova
realidade para as produções informativas pessoais, independentes. E
dentro destas produções, destacam-se os documentários. Sem dúvida,
os espaços virtuais abertos pela blogosfera e a web oferecem uma
destacada difusão das informações, assim como as idéias
desenvolvidas por eles. A partir desta realidade, é possível crer
que a blogosfera é responsável por um novo cenário do audiovisual
no mundo, pois agora é viável criar um espaço e difundir
produções, abrindo, com isto, a possibilidade para os comentários
e avaliações pelo público. A partir deste cenário, podemos dizer
que o papel da sociedade mudou, e o poder da mídia não é o mesmo,
pois agora existem outras formas e reproduzir a informação, sem
dependência da mídia tradicional.
Mas
esta realidade consolidou-se somente a partir da web 2.0., que
apresentou à sociedade a possibilidade de ter uma mais expressiva
condição de interatividade e participação na elaboração de
conteúdos para a internet. Estes conteúdos são produzidos pela
sociedade que se organiza de acordo com seus interesses
compartilhados.
As
redes de usuários são criadas de acordo com os desejos de seus
usuários envolvidos. Estes desenvolvem seus conteúdos em
plataformas digitais, proporcionados pelas tecnologias emergentes,
que agora possibilitam a participação direta de seus usuários nos
processos de produção. Sites, como o YouTube, oferecem aplicativos
de edição de vídeo em linha, e o produto final é automaticamente
publicado.
Outro importante espaço de encontro
entre usuários está nas diversas redes sociais disponíveis,
especialmente o Facebook e o microblog Twitter, que possuem
pertinente capacidade de difusão e oferecem recursos diversos para
sua utilização, inclusive a partir de dispositivos móveis. Estes
espaços denominados não-lugares por Augé (2007) são o ponto de
encontro dos cidadãos que constroem uma estrutura comunicacional
chamada por Jenkins (2009, p.384) de narrativa transmídia, inclusive
pelos conceitos de mobilidade e distribuição de conteúdo pelas
redes sociais.
As redes sociais possuem como
característica a construção de espaços “customizados”, seja
no aspecto visual ou nas informações. A utilização de espaços
para publicar fotografias também é frequentemente utilizado, pois
desta forma o ambiente fica como um espaço pessoal, como a sala de
uma casa com as fotografias em exposição. Entretanto, os recursos
superam isto, como a publicação de vídeos e o desenvolvimento de
diálogos entre os amigos virtuais, ampliando mais ainda a sensação
de um lugar real-virtual (Augé, 2007). Na verdade, o leitor, por sua
vez, assume o papel de colaborador, ou coautor do conteúdo (Renó,
2010). Assim, ele também é detentor do espaço midiático.
Novas
estéticas audiovisuais
Produzir
conteúdos a partir de telefones celulares é algo que exige uma
revisão de estética do audiovisual, fundamentalmente. Há um novo
composto de possibilidades para trabalhar a imagem em movimento e,
para isto, novos aplicativos destinados a estas tarefas. Neste grupo,
estão aplicativos específicos para a produção audiovisual, como o
Reel Director,
especializado em edição de vídeos, e o Adobe
Photoshop Express, uma
versão condensada do software de tratamento de imagens. É possível
produzir todo o documentário a partir de telefones celulares, tanto
pelos recursos disponíveis como pela vantagem de produzir a obra com
mobilidade, ou seja, o dispositivo portátil apresenta melhor
condição de produção de documentários.
Mas é muito importante considerar as
limitações do dispositivo. Para tanto, temos que levar em conta que
o microfone existente no telefone celular é aberto, não direcional,
o que significa que pode captar todos os sons do ambiente, e não
somente do objeto em questão. Além disso, a imagem a partir do
telefone celular tem limitações de tamanho, quando é par exibição
em micro-telas, o que define uma estética ideal para produção por
estes dispositivos. Por isto, o ideal é que se faça a produção
com enquadramento em primeiro plano, ou em plano detalhe, para que a
imagem apresente conteúdo visível a partir destes dispositivos,
enquanto um plano aberto dificulta ou impossibilita a compreensão de
determinados objetos constantes no interior da cena.
Outra definição estética, esta
justificada pela qualidade de som (salvo se a captação de imagens
seja realizada em conjunto com um microfone de lapela), refere-se ao
movimento de câmera. Para que se produza obras audiovisuais com
qualidade de conteúdo é necessário que seja adotado o movimento de
câmera travelling
do tipo tracking in,
ou seja, com uma aproximação física, e não ótica, pois o zoom
tradicional oferece uma
aproximação de imagem com um distanciamento do som.
Uma questão necessário é sobre o
tamanho do vídeo, em termos de secundagem. O ideal é que se
produzam obras de não mais que 10 minutos, pois não sabemos onde
vamos exibir o material, além de desconhecer completamente a
qualidade de conexão disponível. Claro que se é uma produção
específica para exibição em canais de televisão podemos seguir
outra secundagem. Mas se a idéia é uma exibição multimídia
teremos que seguir este formato limitador. Isto é justificado por
Ricardo Bedoya e Isaac Leon Frias (2004), para quem se deve
desenvolver
Uma
questão necessária é sobre o tamanho do vídeo. O ideal é que se
façam obras de não mais que 10 minutos, pois não sabemos onde
vamos exibir e qual a conexão disponível. Claro que se é uma
produção específica para a televisão podemos ter outro tamanho de
enquadramento. Isto é justificado por Bedoya e Frias (2004) que
consideram necessário o desenvolvimento de enquadramentos que
atendam as limitações existentes sobre exibição e produção que
ofereçam ao espectador uma visualização da obra.
O
audiovisual agora vive realidades distintas das vividas antes destes
dispositivos e espaços de exibição. Mas estas mudanças são
históricas no cinema, desde seu surgimento, sempre mudando com a
chegada de novos equipamentos, novos espaços e renovados hábitos de
exibição.
Tecnologia
audiovisual em telefones celulares
A produção
audiovisual contemporânea caminha para um cenário onde os
dispositivos móveis, especificamente os telefones celulares,
passaram a ser as ferramentas ideais, tanto por sua qualidade
tecnológica como a mobilidade e o preço do equipamento. Mas é
importante escolher de forma correta o equipamento ideal.
Uma pergunta que
todos fazemos quando vamos comprar um celular para utilizá-lo em uma
produção audiovisual, além de toda a tecnologia que ele possui, é
sobre qual a quantidade de pixel que sua câmera tem, e se suas
imagens possuem uma boa qualidade. Quanto mais pixel melhor a
qualidade da imagem. Porém, não basta ter muitos pixels se o sensor
para a captação da imagem não é bom. Isso prejudica a conversão
de uma imagem para que tenha boa qualidade. A
imagem digital é construída através de um sensor que faz a
captação de luz do objeto fotografado e transforma essas
informações em pixel, gerando a imagem digital. Quanto melhor o
sensor, melhores serão as imagens em nitidez e cores. Mas é
fundamental compreendermos alguns conceitos fundamentais:
- Pixel >>> Segundo González & Woods (2000, p.18) uma imagen digital é representada por uma matriz de linhas e colunas onde os índices destas linhas e colunas definem um ponto da imagem, definindo o nível de cinza naquele ponto". Estes elementos sao os píxels, também chamado de elementos de figura (picture elements);
- Megapixels >>> Representa o conjunto de varios pixels, como por exemplo, 2.1 megapixels tema resolução de 1024 x 12024 pixels;
- Frame >>> é cada quadro, isto é um segundo de imagen é composto de por quadros que, exibidos em sequencia, provocam a sensação de movimento (Renó, 2011).
A captação da imagem, que é a
primeira parte do processo para gerar uma imagem, segundo Gonzalez &
Woods (2000), é constituída de elementos, um dispositivo físico
que é sensível ao espectro de energia e produz um sinal elétrico
de saída proporcional ao nível de energia percebida, e um
digitalizador que converte a saída elétrica de um sensor físico
para a forma digital. Quanto mais pixels maior a fragmentação da
imagem e assim maior a resolução. Cada pixel registra a
luminosidade que atingiu sua área correspondente. Eles recebem luz
em diferentes proporções por sua superfície, ou seja, cada pixel
recebe uma quantidade de luz diferente em sua superfície e alguns
não recebem luz nenhuma.
Segundo
Marques Filho & Vieira Neto (1999,
p. 2) o processamento de
imagens digitais envolve procedimentos normalmente expressos sob
forma algorítmica. Em função disto, com exceção das etapas de
aquisição e exibição, a maioria das funções de processamento de
imagens pode ser implementada via software. O uso de hardware
especializado para processamento de imagens somente será necessário
em situações nas quais certas limitações do computador principal
(por exemplo, velocidade de transferência dos dados através do
barramento) forem intoleráveis.
Para
a exibição de imagens digitais, segundo Marques Filho & Vieira
Neto (1999,
pág. 5), explicam que
uma alternativa às técnicas fotográficas consiste no uso de
técnicas de halftoning,
que é o método usado por jornais e por impressoras convencionais
(laser, matriciais ou a jato de tinta) para a impressão de imagens,
onde a técnica consiste basicamente em imprimir pontos escuros de
diferentes tamanhos, espaçados de tal maneira a reproduzir a ilusão
de tons de cinza. À medida que a distância entre o observador e a
imagem impressa aumentam, os detalhes finos vão desaparecendo e a
imagem parece cada vez mais uma imagem contínua monocromática.
Existem vários algoritmos para esta técnica, sendo o mais comum o
de Floyd-Steinberg.
Considerações
A
produção de conteúdo audiovisual agora vive uma nova realidade de
produção e exibição. É possível produzir todo o vídeo pelo
telefone celular, desde a produção do roteiro até a finalização
e envio às redes sociais, especialmente o YouTube. Mas para isso é
fundamental considerar novas realidades estéticas, como apresentado
neste artigo.
Outra representação de que é
possível produzir documentários a partir de telefones celulares é
o documental A bola rola3,
desenvolvido na etapa de estudo experimental desta investigação. Na
ocasião, foram realizados os procedimentos apresentados aqui,
inclusive no quesito enquadramento. Ao final, chegou-se à conclusão
de que o enquadramento ideal é sempre o primeiro plano,
especialmente no gênero documental, onde o personagem tem expressiva
importância no testemunho do fato.
Uma terceira preocupação tem relação
com o equipamento. É fundamental ter em conta a função esperada do
telefone e a partir deste ponto escolher o ideal. Fundamental também
é a definição de pixels do mesmo, pois a partir disso torna-se
viável a escolha.
Concluímos, com este estudo, que o
audiovisual agora vive outra realidade, distinta das outras vividas
anteriormente. Realidades de agende produtor, de estética e de
exibição. Entretanto, a estética adotada para este novo padrão de
produção resgata um conceito presente nos primórdios do cinema
documental, responsável por sua expressividade artística e
comunicacional: o cine olho, que leva à tela as verdades de forma
mais próxima e expressiva.
Bibliografía
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Doutorado em Comunicação – FACOM – UMESP.
Vilches,
L (2003). A migração
digital. São Paulo:
Loyola.
1
Jornalista e documentarista, mestre e doutor em Comunicação Social
pela Universidade Metodista de São Paulo e pós-doutorado em
Jornalismo transmídia na Universidade Complutense de Madri
(Espanha), é professor associado de carreira do Programa de
Jornalismo e Opinião Pública na Escola de Ciências Humanas da
Universidade do Rosário (Colômbia). Desenvolve novo pós-doutorado
sobre Touch
Hiperjornalismo na Universidade de Aveiro (Portugal). É
membro-fundador da Red Transmediaticos.
2
Engenheira eletricista e mestre em Engenharia Elétrica (ênfase em
Sistemas de informação) pela Universidade Federal de Uberlândia
(Brasil), desenvolve doutorado em Comunicação Social pela
Universidade Complutense de Madri (Espanha). É professora de
Comunicação Social e Jornalismo na Universidade Minuto de Dios
(Colômbia) e membro-fundadora da Red Transmediaticos.
3
Disponível
em
http://ojosenelmundo.blogspot.com/2010/10/bola-rola-por-aqui-tambem.html.
Acessado 15/05/2011.
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