CINEMA INTERATIVO: A SÉTIMA ARTE EM TEMPOS DE PÓS- MODERNIDADE (1)

 Publicación original: Martes 2 de septiembre de 2008


Por Denis Porto Renó* y Vicente Gosciola**


Resumo:

A estética audiovisual, assim como diversas outras estéticas comunicacionais, vive momentos de revolução. Tais mudanças envolvem a estética desde a criação, a produção, a transmissão, a projeção a, até mesmo, o comportamento do público, que agora não se contenta com a passividade tradicional nestes processos. Porém, apesar de existir uma necessidade de mudança, as tecnologias digitais ainda não oferecem ao cinema interativo condições para que este se transforme numa realidade sociocultural. Este artigo apresenta uma reflexão sobre a importância de se desenvolver uma estética narrativa que contemple a necessidade participativa apresentada pelos espectadores, agora também usuários, do mercado cinematográfico, tanto para as telas convencionais como para televisão digital, telefonia móvel e computador.

Palavras-chave: Cinema interativo, Audiovisual, linguagem audiovisual, comunicação, novas tecnologias digitais.

Resumen:

La estética audiovisual, así como diversas otras estéticas comunicacionales, vive momentos de revolución. Tales cambios involucran desde la estética y la transmisión o proyección, hasta mismo al comportamiento del público, que ahora no se limita a la pasividad tradicional en estos procesos. Mientras tanto, a pesar de existir una necesidad de cambio, las tecnologías digitales no proporcionan al cine interactivo condiciones para que éste se transforme en una realidad sociocultural. Este articulo presenta una reflexión sobre la importancia de desarrollarse una estética narrativa que contemple la necesidad participativa presentada por los receptores, ahora también usuarios, del mercado cinematográfico, tanto para las pantallas convencionales como para la televisión digital, la telefonía móvil y el ordenador.

Palabras-clave: cine interactivo, audiovisual, lenguaje audiovisual, comunicación, nuevas tecnologías digitales.



A pós-modernidade

A sociedade tem vivido modificações substanciais de algumas décadas para cá. O que era considerado espaço exigia uma delimitação física, visível ou não, mas de forma existencialista. Com as mudanças, o que era delimitado passou a ser virtual, apenas imaginável, discutido. Esse espaço imaginário recebeu o nome de ciberespaço, algo ainda em estudos, mas com uma definição praticamente consolidada. O surgimento do ciberespaço participa diretamente de uma nova fase vivida pela sociedade: a pós-modernidade. Os primeiros conceitos que projetavam a leitura social para a pós-modernidade, definida por Bauman (2001) como modernidade líquida, foram declarados por McLuhan (2005, p.12), ainda de forma singela e descompromissada com o que viria a ser uma nova fase. Dizia ele, numa leitura daquele tempo, que “hoje, as tecnologias e seus ambientes conseqüentes se sucedem com tal rapidez que um ambiente já nos prepara para o próximo. As tecnologias começam a desempenhar a função da arte, tornando-nos conscientes das conseqüências psíquicas e sociais da tecnologia”. E complementava:

Nós estamos entrando na nova era da educação, que passa a ser programada no sentido da descoberta, mais do que no sentido da instrução. Na medida em que os meios de alimentação de dados aumentam, assim deve aumentar a necessidade de introvisão e de reconhecimento de estruturas. (MCLUHAN, 2005, p.13)

As idéias de McLuhan abriram discussões sobre essa nova fase, onde a participação da energia elétrica, da comunicação eletrônica e digital se transformaram em agentes mutantes de comportamentos sociais, assim como as formas de comunicação entre os componentes da sociedade. Porém, as idéias de McLuhan, para Vilches (2003, p.69) merecem uma análise com relação ao seu claro posicionamento entre o pós-moderno e o neocrítico. Para ele:

O pensamento de McLuhan, no debate sobre os meios e a realidade, parece navegar em dois mares. O debate entre pós-modernos e neocríticos está aberto e posto no terreno dos novos meios, e não como debate epistemológico. Portanto, é mais político que teórico, mais midiológico que acadêmico.

A existência da pós-modernidade ganha força por Bauman (2001, p.31), que define essa fase como sociedade da modernidade líquida ou fluída. Para ele, uma das características marcantes desta fase é a falta de estrutura espacial, ou seja, a questão espacial já não tem tanta importância. E define:

Enquanto os sólidos têm dimensões espaciais claras, mas neutralizam o impacto e, portanto, diminuem a significação do tempo (resistem efetivamente a seu fluxo ou o tornam irrelevante), os fluidos não se atêm muito a qualquer forma e estão constantemente prontos (e propensos) a mudá-la; assim, para eles, o que conta é o tempo mais do que o espaço que lhes toca ocupar; espaço que, afinal, preenchem apenas “por um momento”. (BAUMAN, 2001, p.8)

O autor justifica, em seguida, o motivo da escolha da idéia de líquido ou fluído como peças fundamentais para a leitura da pós-modernidade. Segundo Bauman (2001, p.9), “essas são as razões para considerar ‘fluidez’ou ‘liquidez’ como metáforas adequadas quando queremos captar a natureza da presente fase, nova de muitas maneiras, na história da modernidade”.

A discussão sobre o pós-modernismo é reforçada com Santaella (2007). Para ela, que compartilha conceitos com Bauman (2001), mais do que a mudança do pós-modernismo, modificou-se também o ser humano, que a autora apresenta como pós-humano. Para ela, as mudanças fazem parte da pós-modernidade. A expressão “pós-humano” tem uma genealogia, como, de resto, também a possuem quaisquer outras expressões que se tornam medas correntes em discussões intelectuais e em matérias jornalísticas de divulgação. Parece evidente que um rastreamento da genealogia do pós-humano deve começar pelo exame histórico do surgimento do prefixo “pós”. Desde os anos 1960, e cada vez mais freqüentemente até a explosão de seu uso nos anos 1980, esse prefixo foi anteposto aos substantivos “moderno”, “modernismo” e “modernidade”. (SANTAELLA, 2007, p.33)

Essa mutação justifica as críticas proferidas tanto por Lyotard, em seu livro “a modernidade – um projeto inacabado” como para Santos (1999), para quem o século XX foi o século das promessas não cumpridas. Porém, é importante ressaltar que Santaella não considera pós-humano sinônimo de pós-moderno, apesar de reconhecer uma relação entre eles. Segundo ela, “é importante dizer, retomando idéias desenvolvidas no capítulo 1, que não tomo a cultura pós-moderna e a cultura pós-humana como sinônimas” (SANTAELLA, 2007, p.67).

Para complementar o entendimento sobre a pós-modernidade, vem o teórico alemão Hans Ulrich Gumbrecht nos iluminar o caminho para darmos conta da amplidão do conceito. Em seu livro Corpo e Forma (1998, pp. 137-151) desenvolve os “três conceitos característicos da situação pós-moderna”. O primeiro conceito, da destemporalização, concebe que toda temporalidade é efêmera, pela diluição em um mesmo cadinho do passado presente e futuro, em um mundo imerso na simultaneidade, tão bem caracterizado pelas práticas sociais de múltiplas conexões, telas e atividades concomitantes. A desreferencialização é o enfraquecimento da objetividade na representação do mundo exterior ou a perda do contato direto com a matéria, o que nos lembra as criações em realidade virtual e as comunidades on-line. E, provavelmente o conceito mais significativo para este estudo, a destotalização é a “impossibilidade de sustentar afirmações filosóficas de caráter universal”, claramente sinalizada pela falência das práticas da globalização e de toda e qualquer teoria absoluta, o que faz implodir a autocracia do senso estético único, liberando as novas mídias para assumir e consolidar as suas novas estéticas narrativas, como veremos a seguir.


(continuará)


*Jornalista, documentarista, mestre e doutorando em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo, onde pesquisa sobre cinema interativo, membro-fundador da Red INAV – Rede Ibero-americana de Estudos sobre Narrativas Audiovisuais (autor de contato) Endereço: Rua Augusto Domingos Pereira, 95 – casa 14 – Ribeirão Preto – SP. E-mail: denis@ojosenelmundo.com . Telefone: (16) 9215-3778.

**Doutor em Comunicação - Tecnologias da Informação pela Comunicação e Semiótica da PUC-SP, onde desenvolveu pesquisa sobre roteiro para hipermídia (2002). Autor do livro "Roteiro para as novas mídias: do game à TV interativa" (2a ed. rev. ampl., São Paulo, Senac, 2008), é professor permanente do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Anhembi Morumbi. E-mail: vgosciol@uol.com.br.

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